terça-feira, 22 de março de 2011

Para onde queremos ir?

Leia o texto  abaixo, pense  e socialize o que ele te diz em relação a teus objetivos educacionais especialmente em relação ao uso da tecnologia.
 
O irônico sorriso do gato
Mario Sergio Cortella*

Há alguns meses, participando de um congresso sobre O Professor e a Leitura de Jornal, pudemos debater a respeito da "overdose" ferramental que invade cada vez mais o cotidiano social e, sem dúvida, também o mundo da escola.
Relembrávamos nesse debate uma das mais contundentes reflexões sobre a vida humana e que não pode ser esquecida, tamanha é a importância que carrega também para o debate pedagógico: Alice no País das Maravilhas, escrita no século XIX pelo matemático inglês Charles Dodgson (que deu a si mesmo o apelido Lewis Carroll).
Nessa obra, Alice cai. Ela está atrás de um coelho e cai em um mundo desconhecido (na verdade, a menina cai dentro de si mesma). Entre as inúmeras personagens fantásticas da obra, duas delas estão muito próximas de nós: uma é um coelho que está sempre atrasado, correndo para lá e para cá com o relógio na mão; a outra é um gato do qual somente aparece o sorriso, somente ficam visíveis os dentes e, às vezes, o rabo. Há uma cena que a gente não deve ocultar – principalmente quando se fala em ferramentas para o trabalho pedagógico e, muitas vezes, da percepção equivocada da tecnologia como redentora da educação: o encontro de Alice com o gato. Contando resumidamente, na cena, Alice está perdida, andando naquele lugar e, de repente, vê no alto da árvore o gato. Só o rabão do gato e aquele sorriso. Ela olha para ele lá em cima e diz assim: "Você pode me ajudar?" Ele falou: "Sim, pois não." "Para onde vai essa estrada?", pergunta ela. Ele respondeu com outra pergunta (que sempre de! vemos nos fazer): "Para onde você quer ir?". Ela disse: "Eu não sei, estou perdida." Ele, então, diz assim: "Para quem não sabe para onde vai, qualquer caminho serve."
Para quem não sabe para onde vai, serve de qualquer maneira o jornal, a revista, o livro, a internet, o videocassete, o cinema etc. E aí, qualquer um de nós, na ansiedade de modernizar o modelo pedagógico, eletrifica sofregamente a sala de aula ou, mais desesperadamente, sonha em fazer isso, imaginando o quanto o trabalho seria espetacular com esses instrumentos. Daí, se possível, o professor enche a sala de aparatos tecnológicos, como se, para fazer algo que interesse às pessoas, precisasse eletrificar continuamente o processo, metendo aparelhos eletrônicos ligados para todo o lado. Muitos dizem que, como os alunos estão habituados com isso, precisamos modernizar o ensino. Será?
Depende da finalidade do "para onde se desejar ir". Se você sabe para onde quer ir, vai usar a ferramenta necessária. O que se deve modernizar não é primeiramente a ferramenta, mas sim o tratamento intencional dado aos conteúdos trabalhados na escola.
Por isso, é preciso trazer sempre na memória o ditado chinês que diz: "Quando você aponta a lua bela e brilhante, o tolo olha atentamente a ponta do seu dedo."

*Professor de pós-graduação em educação (Currículo) da PUC-SP.

Fonte: Revista Educação/novembro 2002

6 comentários:

Clau Z. disse...

Penso que o grupo de estudos será ótimo, exatamente porque é em grupo. Sempre é mais produtivo partilhar experiências. Gostaria de explorar atividades que possam ser utilizadas com os alunos do currículo, como a criação das histórias em quadrinhos.Com relação ao texto,não é possível, hoje,ser educador sem conhecer e dominar a tecnologia tão presente no mundo dos nossos alunos. Muitos livros do professor já trazem impresso as video aulas, sites com busca de conteúdos, documentários...Pelo menos o básico, todo educador deve ter. É muito bom e facilita muito o trabalho. Porém, não devemos ser como a Alice do texto. Devemos focar o que é mais produtivo.

Marli Fiorentin disse...

Concordo Claudete. Existem mil ferramentas disponíveis, porém temos que focar naquilo que pode servir aos nossos objetivos, nos apropriarmos e usar, pois a receita cada um cria. Tomara que possamos continuar e cada vez mais desenvolver a curiosidade pelo aprender. Abraço!

Suélen disse...

Todas as nossas ações, para que se tenha êxito, precisam de metas a serem alcançadas, objetivos, pois só assim serão efetivas e terão um significado contundente para quem delas depender. O meu interesse em participar deste grupo, que traço como objetivo a ser alcançado, é o contato e aperfeiçoamento no uso dos recursos tecnológicos no trabalho que exerço na escola, bem como, para explorar as ferramentas de acessibilidade, pensando na Educação Especial e a troca de experiências com aquelas que realmente estão em contato com os alunos, e que certamente podem contribuir muito na construção dos meus saberes.

Marli Fiorentin disse...

Suélen!
Os recursos tecnológicos só surtem efeito quando usados com um objetivo bem definido. É preciso conhecer e aprofundar a reflexão sobre as questões pedagógicas .Paulo Freire, Vigotsky e outros destacam a importância da interação na aprendizagem e isso as tecnologias oferecem bastante. Que alegria contar contigo em nosso grupo. BJ!

Anizete disse...

Todas as nossas ações nos levam a novos conhecimentos. É a partir das diferenças que nascem novos saberes. Nosso grupo de estudos está direcionado na busca de novas tecnicas para trabalhar com os avanços das tecnologias para uma nova pedagogia. Nessa estrada, onde se aprensentam novos saberes, você é o nosso gato! Nós educadoras, a ALice, perdidas no desconhecido, mas prontas para inovar. Um abraço.

Marli Fiorentin disse...

Anizete, o importante é a disposição de se abrir ao novo e aos poucos buscar se apropriar dos recursos. Não é necessário dominar tudo, nem é possível, para começar a utilizar as tecnologias, mas ir aprendendo na prática do fazer.BJ!